Beatriz gozou de uma pequena temporada de férias no seu
estado natal e logo foi chamada para trabalhar no restaurante Cucina Dolce em São Paulo.
Seu antigo mestre do curso de gastronomia o Chef Gerard era
amigo pessoal do proprietário do Cucina Dolce, o Chef Tulio Aligheri, que era
conhecido pelo pulso firme e humor acido, tipicamente italianos.
Ao relatar ao
amigo algumas das pequenas façanhas de Beatriz durante o curso, como a vez em
que ela comandou a turma no preparo de uma refeição completa (petiscos,
entrada, prato principal, sobremesa, escolha do vinho adequado para acompanhar
a refeição), para um grupo de professores da faculdade que foi convidado para
almoçar, o chef Gerard impressionou um pouco o amigo, mas Tulio não podia
arriscar a boa fama do seu restaurante colocando uma chef recém formada para
comandar sua equipe, ele precisaria testá-la para saber se ela teria autoridade suficiente para futuramente liderar uma cozinha, pois ele como dono não
tinha tempo para comandar sua própria equipe, o que o frustrava de certa
maneira.
- Está bem meu amigo, ligarei para esta garota e a chamarei
para trabalhar aqui no meu restaurante, mas já lhe aviso ela começará de
maneira modesta como todos aqui, terá que ganhar seu espaço e o respeito dos
colegas por conta própria.
- Sim Tulio, eu sei disso e garanto que ela terá grandes resultados
trabalhando com você, que tem uma das melhores equipes que eu conheço – o Chef
Gerard sabia o quanto o amigo podia ser duro com seus funcionários e sabia
também que isso só acrescentava dentro de uma cozinha, onde o ambiente poderia
se tornar hostil e a competição por um espaço era muito acirrada e às vezes até
desleal. E tinha também plena certeza de que Beatriz se sairia muito bem,
embora ela mesma não acreditasse em seu potencial.
Os dois amigos trocaram amenidades por alguns minutos no
telefone e desligaram. Em seguida Chef Tulio ligou para a casa de Beatriz e deu
à noticia à garota , que pareceu bastante surpresa com a noticia, mas aceitou
sem hesitar.
- Sim chef Tulio, quando eu começo? - A voz de Beatriz
transparecia seu nervosismo e a garota precisava se concentrar para não
gaguejar.
- Em um mês, está bom
para você?
- Sim está ótimo, muito obrigada pela oportunidade!
- Disponha, vejo você em um mês então, até logo- Tulio
desligou o telefone e ficou admirado ao perceber que seus pensamentos tentavam
formar uma silhueta para aquela voz tão doce que ele escutara do outro lado da
linha. Balançou a cabeça para afastar aquele pensamento e se voltou para as
planilhas que estavam a sua frente, na mesa do seu escritório.
Beatriz não conseguiu conter um sorriso ao lembrar de toda a
correria que havia sido o ultimo mês, desde que recebera o telefone do Chef
Tulio, para que trabalhasse em seu restaurante. Mentalmente agradeceu a seu
mestre, o Chef Gerard por se importar tanto com ela, embora não entendesse por
que.
Deixou os pensamentos se dissiparem ao perceber que chegara
ao aeroporto. Desceu do táxi, pegou suas malas que o taxista gentilmente tirara
do porta malas e dirigiu-se até o checkin. Passou por todo o procedimento,
embarcou no avião, encontrou sua poltrona e instalou-se confortavelmente. Pegou
seu Iphone, conectou os fones de ouvido e rapidamente fez uma seleção de
musicas que a manteriam acordada durante o vôo, escolheu o álbum Famous
Monsters, de uma banda que ela gostava muito, The Misfits.
Beatriz nunca fora comum para músicas, gostava de sons
pesados para cozinhar ou para qualquer outra tarefa que estivesse realizando,
inclusive ler. Musicas pesadas a
inspiravam, davam energia e ela adorava a sensação que preenchia seus ouvidos e
seus pensamentos, permitindo que se concentrasse apenas no que estava fazendo.
A viajem de avião transcorreu bem, passou rápido e quando
ela se deu conta já estava pousando em São Paulo. Passou pelo desembarque,
esperou um pouco até pegar as malas, saiu do aeroporto e chamou um táxi, seguiu
até seu novo endereço, queria desarrumar as malas e passar no Dolce Cocina para
se apresentar e perguntar a que horas começaria no dia seguinte.
Seu apartamento era exatamente o que queria, pequeno, mas
aconchegante, em um prédio igualmente pequeno e convidativo. O bairro não era
exatamente calmo, mas ela nunca gostou da calmaria da cidade em que morava, não
que gostasse de cair na balada, mas apreciava sair e se divertir com os poucos
amigos que tinha.
Seu apartamento ficava no terceiro andar, tinha um banheiro com
banheira, coisa que ela sempre quis, cozinha e sala conjugados, uma lavanderia
pequena e um quarto não muito grandes,
que tinha portas de correr numa parede,
que davam para uma varanda com vista para a rua, e para sua surpresa, ela podia ver o Cucina Dolce de lá, e era realmente perto dali.
Ela se aproximou do parapeito da varanda e começou a
observar a frente do restaurante, eram 13:00 horas e logo começaria o expediente.
Cucina Dolce tinha uma frente imponente, com pilastras grandes de mármore na
frente, tinha uma pintura cor vermelho vivo e um letreiro grande e sóbrio logo
acima do toldo que ficava sobre a entrada, mas não a assustava, não depois do
que tinha passado na França , aquilo que nunca contara a ninguém, isso sim a amedrontava muito, a fazia ter
calafrios ao lembrar, pesadelos quando dormia e algumas vezes febre e delírios,
havia deixado marcas profundas, que ela trouxera consigo de volta ao Brasil, mas não era daquilo que queria lembrar no
momento, afastou o pensamento e decidiu
ajeitar sua casa.
Saiu da varanda e começou a arrumar as suas roupas e demais
coisas que trouxera da casa dos pais para seu novo lar. Quando terminou, tomou
um banho e decidiu ir se apresentar no trabalho, conhecer seu chefe e descobrir
o que a aguardava no dia seguinte.
O clima era ameno e ela
decidiu-se por uma calça jeans, botas militares e uma blusa básica preta, com
mangas compridas e colada ao corpo. Arrumou os cachos em frente ao espelho,
deixando-os soltos, passou um pouco de rímel, um batom rosa claro. Fechou toda
a casa e saiu.
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Esse é o primeiro capítulo, amanhã começo a postar o segundo, leiam e como sempre, dêem sua opinião.
bjos
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