domingo, 9 de junho de 2013

Capítulo 12 - Parte 10

Foi por volta  das 14:00 horas que o Nissan de Tulio encostou junto à calçada em frente a casa de Caio e Beatriz. Ele e Alice haviam levantado cedo, após uma noite mal dormida, pois a ansiedade de contar tudo sobre a paternidade de Caio, os deixou fazendo planos de como seria o momento em que desenrolariam toda a história para o filho durante a maior parte da noite.
Quando finalmente estavam cansados demais para continuarem conversando, resolveram dormir. Além de demorarem a conseguir pregar os olhos, o sono foi agitado e cheio de sonhos estranhos sobre as expectativas que tinham para a conversa com o filho no outro dia.
Quando cansaram de rolar na cama sem conseguir dormir, ainda não tinha amanhecido, mas Tulio e Alice resolveram se levantar e pegar a estrada, pois a viajem era longa e quanto antes chegassem a São Paulo, mais cedo poderiam contar toda a verdade a Caio.
Foram recebidos por Marie, que pediu para que aguardassem na sala, pois iria descobrir o paradeiro dos donos da casa.
Marie os encontrou esticados em duas espreguiçadeiras, próximos à piscina, tirando uma soneca. Caio estava sem camisa, usando uma bermuda feita de um jeans cortado e bia estava de biquíni, deitada de barriga para baixo, exibindo a tatuagem mais assombrosa que Marie já vira.
Ela, como boa senhora católica que era, achou aquelas asas de anjo um sacrilégio, mas não disse nada, apenas fez o sinal da cruz disfarçadamente e se aproximou para chamar os dois.
Quando estava ao lado do casal, Marie pigarreou num tom que fosse audível pelos dois.
Caio e Bia acordaram e se viraram para observa-la.
- Com licença Caio, Beatriz, a dona Alice e o seu Tulio acabaram de chegar e estão na sala esperando vocês.
- Obrigado Marie, diga a eles que já estamos indo.
Caio e Beatriz se levantaram e foram até o quarto, trocaram de roupa rapidamente e se deslocaram para a sala, para receber os recém-chegados.
Foi com um abraço apertado na mãe e um rápido aperto de mão no dono do restaurante que Caio recebeu os convidados, Beatriz abraçou e cumprimentou os ambos com dois beijos no rosto.
Quando todos estavam sentados nas confortáveis poltronas da sala, Caio e Beatriz muito próximos, de frente para Tulio e Alice que estavam sentados lado a lado, mas sem nenhuma indicação de que fossem um casal, Caio havia reparado na distancia segura que havia entre os dois.
- Como foi a viajem¿
Caio resolveu puxar assunto quando o silencio se estendeu por mais de um minuto na sala.
- Saímos bem cedo e tudo transcorreu bem, sem transito nem acidentes no caminho, mas confesso que dirigir por tantas horas seguidas cansa um bocado, ainda mais depois de uma noite mal dormida. – Tulio respondeu automaticamente, olhando de soslaio para Alice.
Alice pigarreou e Caio ergueu uma sobrancelha para os dois com a cara fechada.
- Mas não é sobre isso que viemos conversar com você, meu filho, eu e o Tulio – Alice segurou as mãos de Tulio entre as suas, apertando um pouco – temos um assunto muito sério para tratar com você.
- Eu imagino que deva ser. – Caio estava seco.
Beatriz se mexeu desconfortável na cadeira, sentia-se uma intrusa na sala. Tentou levantar para sair, mas Caio segurou a mão dela e a puxou de volta para o sofá.
- Fique, meu bem, não há porque você sair. Você é parte importante da minha vida agora, talvez a mais importante, você pode e deve saber de qualquer coisa que eles tenham para me contar.
- Bom então vamos começar. O que eu e Tulio temos para lhe contar é a respeito do seu pai.
- O que ele pode ter para contar sobre o meu pai¿ Tulio nem o conheceu! O que está acontecendo aqui mãe¿
Caio se empertigou na cadeira, ajeitando os ombros e parecendo mais alto e ameaçador, queria passar a impressão de plena segurança, mas na realidade temia o que a mãe lhe diria a seguir.
- Tulio sabe mais do que você pensa, porque ele é seu pai biológico. Foi ele quem gerou você, que é o que eu tenho de mais importante nessa vida.
Caio não se moveu e sua expressão quase não se alterou, apenas Beatriz viu o maxilar dele se contrair com a revelação.
- Tulio soube que era seu pai há poucos anos, na verdade quando você estava procurando emprego na área gastronômica, com o seu histórico policial ninguém queria te dar emprego e eu tive que recorrer a ele, e explicar porque estava pedindo.
- E o Alberto¿
- O Alberto sempre foi meu amigo e soube de tudo desde o começo, ele se ofereceu para casar comigo e criar você. Eu fui muito feliz com ele, durante todo o tempo em que estivemos casados, a morte dele foi muito difícil de superar.
- Então vocês também estão juntos¿
A voz de Caio tinha um tom gelado, quase mortal.
- Sim, estamos juntos.
Foi Tulio a responder a ultima pergunta.
- Eu amo a sua mãe, há mais de 25 anos e nos encontrarmos de novo fez com que o sentimento que estava adormecido despertasse ainda mais forte que antes.
Caio assentiu, mas não disse palavra durante algum tempo, apenas ficou olhando para o chão, com o tornozelo apoiado sobre uma das pernas e as mãos apoiadas sobre elas.
Quando finalmente ergueu o olhar, Caio disse.
- Bom se era só isso que vocês tinham para contar, então já podem ir embora.
Beatriz olhou para Caio confusa e horrorizada. Nunca o vira tratar alguém daquela forma, com exceção de Daniel, mas ele era um crápula e merecia o pior tratamento do mundo, já Alice era mãe dele estava sofrendo com aquela situação, Bia podia ver nos olhos dela.
- Caio, por favor filho, tente entender.
Alice estava tentando apelar para o bom senso de Caio, mas parece que ele tinha fugido no instante em que ela lhe contara a verdade.
- Podem ir embora.
Caio virou as costas e saiu, subiu as escadas em direção ao quarto, Beatriz conseguiu ouvir a porta se fechar de leve.
- Me desculpe por isso Alice, eu vou tentar conversar com ele. Fico feliz por vocês dois terem se acertado, espero que tudo dê certo.
- Obrigada querida, você faz muito bem pra ele.
Alice abraçou Beatriz e algumas lágrimas escorreram por sua bochecha, antes de se virar, dar o braço a Túlio e saírem pela porta.
Assim que ficou sozinha na sala, Beatriz respirou fundo. Não sabia o que fazer. Aquela revelação a tinha pego de surpresa tanto quanto a Caio. Mas ela podia entender os motivos de Alice, afinal ela estava sozinha, sem o pai da criança, que nem ao menos sabia da gravidez. A coisa mais sensata que podia fazer era garantir uma criação digna e um pai presente para seu filho. 
Mas pelo visto Caio não via as coisas dessa forma.
Beatriz foi até a cozinha, preparou um chá, colocou numa travessa o bule, pires, duas xicaras, colherinhas e açúcar e subiu as escadas rumo ao quarto. Precisava conversar com Caio, apoia-lo, saber o que sentia e o que estava pensado com relação a tudo aquilo que tinham ouvido.

Beatriz respirou fundo antes de bater na porta do quarto e entrar. Aquela tarefa não seria fácil, mas era papel dela estar presente, da mesma forma que caio fizera quando ela precisou dele. E Beatriz estava preparada para dar a ele todo o apoio que quisesse, independente da aceitação dele ao fato de Tulio ser seu pai biológico.


--------------------
Boa semana a todos!
-------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário