Foi por volta das
14:00 horas que o Nissan de Tulio encostou junto à calçada em frente a casa de
Caio e Beatriz. Ele e Alice haviam levantado cedo, após uma noite mal dormida,
pois a ansiedade de contar tudo sobre a paternidade de Caio, os deixou fazendo
planos de como seria o momento em que desenrolariam toda a história para o
filho durante a maior parte da noite.
Quando finalmente estavam cansados demais para
continuarem conversando, resolveram dormir. Além de demorarem a conseguir
pregar os olhos, o sono foi agitado e cheio de sonhos estranhos sobre as
expectativas que tinham para a conversa com o filho no outro dia.
Quando cansaram de rolar na cama sem conseguir dormir,
ainda não tinha amanhecido, mas Tulio e Alice resolveram se levantar e pegar a
estrada, pois a viajem era longa e quanto antes chegassem a São Paulo, mais
cedo poderiam contar toda a verdade a Caio.
Foram recebidos por Marie, que pediu para que aguardassem
na sala, pois iria descobrir o paradeiro dos donos da casa.
Marie os encontrou esticados em duas espreguiçadeiras,
próximos à piscina, tirando uma soneca. Caio estava sem camisa, usando uma bermuda
feita de um jeans cortado e bia estava de biquíni, deitada de barriga para
baixo, exibindo a tatuagem mais assombrosa que Marie já vira.
Ela, como boa senhora católica que era, achou aquelas
asas de anjo um sacrilégio, mas não disse nada, apenas fez o sinal da cruz
disfarçadamente e se aproximou para chamar os dois.
Quando estava ao lado do casal, Marie pigarreou num tom
que fosse audível pelos dois.
Caio e Bia acordaram e se viraram para observa-la.
- Com licença Caio, Beatriz, a dona Alice e o seu Tulio
acabaram de chegar e estão na sala esperando vocês.
- Obrigado Marie, diga a eles que já estamos indo.
Caio e Beatriz se levantaram e foram até o quarto,
trocaram de roupa rapidamente e se deslocaram para a sala, para receber os
recém-chegados.
Foi com um abraço apertado na mãe
e um rápido aperto de mão no dono do restaurante que Caio recebeu os
convidados, Beatriz abraçou e cumprimentou os ambos com dois beijos no rosto.
Quando todos estavam sentados nas
confortáveis poltronas da sala, Caio e Beatriz muito próximos, de frente para
Tulio e Alice que estavam sentados lado a lado, mas sem nenhuma indicação de
que fossem um casal, Caio havia reparado na distancia segura que havia entre os
dois.
- Como foi a viajem¿
Caio resolveu puxar assunto quando
o silencio se estendeu por mais de um minuto na sala.
- Saímos bem cedo e tudo
transcorreu bem, sem transito nem acidentes no caminho, mas confesso que
dirigir por tantas horas seguidas cansa um bocado, ainda mais depois de uma
noite mal dormida. – Tulio respondeu automaticamente, olhando de soslaio para
Alice.
Alice pigarreou e Caio ergueu uma
sobrancelha para os dois com a cara fechada.
- Mas não é sobre isso que viemos
conversar com você, meu filho, eu e o Tulio – Alice segurou as mãos de Tulio
entre as suas, apertando um pouco – temos um assunto muito sério para tratar
com você.
- Eu imagino que deva ser. – Caio
estava seco.
Beatriz se mexeu desconfortável na
cadeira, sentia-se uma intrusa na sala. Tentou levantar para sair, mas Caio
segurou a mão dela e a puxou de volta para o sofá.
- Fique, meu bem, não há porque
você sair. Você é parte importante da minha vida agora, talvez a mais
importante, você pode e deve saber de qualquer coisa que eles tenham para me
contar.
- Bom então vamos começar. O que
eu e Tulio temos para lhe contar é a respeito do seu pai.
- O que ele pode ter para contar sobre o meu pai¿ Tulio nem o conheceu! O
que está acontecendo aqui mãe¿
Caio se empertigou na cadeira,
ajeitando os ombros e parecendo mais alto e ameaçador, queria passar a
impressão de plena segurança, mas na realidade temia o que a mãe lhe diria a
seguir.
- Tulio sabe mais do que você
pensa, porque ele é seu pai biológico. Foi ele quem gerou você, que é o que eu
tenho de mais importante nessa vida.
Caio não se moveu e sua expressão
quase não se alterou, apenas Beatriz viu o maxilar dele se contrair com a
revelação.
- Tulio soube que era seu pai há
poucos anos, na verdade quando você estava procurando emprego na área
gastronômica, com o seu histórico policial ninguém queria te dar emprego e eu
tive que recorrer a ele, e explicar porque estava pedindo.
- E o Alberto¿
- O Alberto sempre foi meu amigo e
soube de tudo desde o começo, ele se ofereceu para casar comigo e criar você.
Eu fui muito feliz com ele, durante todo o tempo em que estivemos casados, a
morte dele foi muito difícil de superar.
- Então vocês também estão juntos¿
A voz de Caio tinha um tom gelado,
quase mortal.
- Sim, estamos juntos.
Foi Tulio a responder a ultima
pergunta.
- Eu amo a sua mãe, há mais de 25
anos e nos encontrarmos de novo fez com que o sentimento que estava adormecido
despertasse ainda mais forte que antes.
Caio assentiu, mas não disse
palavra durante algum tempo, apenas ficou olhando para o chão, com o tornozelo
apoiado sobre uma das pernas e as mãos apoiadas sobre elas.
Quando finalmente ergueu o olhar,
Caio disse.
- Bom se era só isso que vocês
tinham para contar, então já podem ir embora.
Beatriz olhou para Caio confusa e
horrorizada. Nunca o vira tratar alguém daquela forma, com exceção de Daniel,
mas ele era um crápula e merecia o pior tratamento do mundo, já Alice era mãe
dele estava sofrendo com aquela situação, Bia podia ver nos olhos dela.
- Caio, por favor filho, tente
entender.
Alice estava tentando apelar para
o bom senso de Caio, mas parece que ele tinha fugido no instante em que ela lhe
contara a verdade.
- Podem ir embora.
Caio virou as costas e saiu, subiu
as escadas em direção ao quarto, Beatriz conseguiu ouvir a porta se fechar de
leve.
- Me desculpe por isso Alice, eu
vou tentar conversar com ele. Fico feliz por vocês dois terem se acertado,
espero que tudo dê certo.
- Obrigada querida, você faz muito
bem pra ele.
Alice abraçou Beatriz e algumas
lágrimas escorreram por sua bochecha, antes de se virar, dar o braço a Túlio e
saírem pela porta.
Assim que ficou sozinha na sala,
Beatriz respirou fundo. Não sabia o que fazer. Aquela revelação a tinha pego de
surpresa tanto quanto a Caio. Mas ela podia entender os motivos de Alice,
afinal ela estava sozinha, sem o pai da criança, que nem ao menos sabia da
gravidez. A coisa mais sensata que podia fazer era garantir uma criação digna e
um pai presente para seu filho.
Mas pelo visto Caio não via as coisas
dessa forma.
Beatriz foi até a cozinha,
preparou um chá, colocou numa travessa o bule, pires, duas xicaras, colherinhas
e açúcar e subiu as escadas rumo ao quarto. Precisava conversar com Caio,
apoia-lo, saber o que sentia e o que estava pensado com relação a tudo aquilo
que tinham ouvido.
Beatriz respirou fundo antes de
bater na porta do quarto e entrar. Aquela tarefa não seria fácil, mas era papel
dela estar presente, da mesma forma que caio fizera quando ela precisou dele. E
Beatriz estava preparada para dar a ele todo o apoio que quisesse, independente
da aceitação dele ao fato de Tulio ser seu pai biológico.
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Boa semana a todos!
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