Caio estava sentado, com os pés
sobre a cama, os braços atrás da cabeça e encostado na cabeceira do móvel.
Estava olhando pra cima, pra ponto nenhum, apenas pensando em tudo o que ouvira
a mãe lhe dizer.
Estava tão concentrado em tudo o
que havia escutado, que não ouviu Beatriz bater na porta e quando ela entrou,
ele nem ao menos virou a cabeça para vê-la trazer a bandeja de chá para o lado
dele na cama. Estava distraído demais.
Beatriz, por sua vez, percebeu o
quanto Caio estava compenetrado em seus pensamentos e não falou palavra alguma,
apenas colocou a bandeja sobre a cômoda, despejou o chá nas canecas, adoçou e
entregou uma a Caio, que bebeu com os olhos fechados, apreciando o aroma e o
sabor do liquido fervente, como se aquilo fosse ajuda-lo a pensar melhor sobre
sua vida, seu passado e toda a mentira que vivera até ali.
Beatriz então, pegou a sua caneca,
de a volta na cama e sentou-se ao lado de Caio em silencio, apenas apreciando o
seu chá e oferecendo a ele sua presença, pois pelo que pode perceber, ele não
estava a fim de conversar.
Caio ficou realmente grato por
Beatriz não perguntar a respeito da conversa com a mãe e Tulio, ele não queria falar a respeito
daquilo. Já era difícil o suficiente para ele pensar que tudo o que vivera, o
sentimento que nutriu pelo não-pai
Alberto pudesse ser mentira.
Não.
O que ele sentiu pelo não-pai era
verdadeiro, como qualquer amor de filho para pai, o que era mentira era sua
história, a que a mãe havia lhe contado desde que era muito pequeno.
Do quão felizes ela e seu pai
eram, o tempo que namoraram e o desenrolar da relação, que terminara na
gravidez dele.
Até que parte ela havia
substituído o nome de Tulio pelo de Alberto¿
Será que ela realmente o havia
amado, ou apenas o usou para ter alguém para assumir o filho de outro¿
Eram muitas perguntas, mas nenhuma
delas tinha uma resposta, ainda não.
Caio sabia que teria que falar com
Alice para ter essas respostas, mas essa era uma conversa que ele queria adiar
o tanto quanto pudesse. Ele tinha raiva dela, raiva de Tulio e de tudo o que
eles o haviam feito acreditar e que agora, ele sabia ser mentira.
Mas quando começou a reviver a
conversa por partes, Caio lembrou que a mãe lhe havia dito que Tulio havia
ficado sabendo da paternidade há pouco mais de 3 ou 4 anos e isso queria dizer
que Tulio também havia sido enganado, talvez não de forma tão descarada quanto
Caio, que convivera com a mentira durante toda a sua existência, mas também
havia sido vitima em toda aquela história.
Olhar a situação dessa forma, fez
Caio se sentir um pouco menos idiota. Ele compartilhava parte de tudo aquilo
com o pai verdadeiro, embora achasse difícil conseguir chama-lo assim algum
dia, era o que Tulio era realmente, seu Pai Verdadeiro.
Caio suspirou, sua cabeça doía, os
olhos estavam cansados de tanto olhar para o mesmo ponto inexistente no teto
sem piscar. Beatriz estava deitada cochilando ao seu lado na cama, ele estava
tão concentrado em seus pensamentos que não percebera quando ela dormiu.
Um sorriso lento brotou nos lábios
do rapaz, apesar de ele não olhar para ela e nem lhe dirigir palavra, ela havia
ficado ali, ao seu lado, apenas para que ele soubesse que ela estava ali pra o
que ele precisasse, até para ignorá-la.
“Ela é realmente especial, e é
minha”.
Caio esqueceu o assunto com o pai,
o não-pai e a mãe por hora, queria aproveitar a companhia da namorada da melhor
forma que podia imaginar no momento.
Ele deitou-se ao lado dela, que
estava de costas para ele, abraçou-a, puxando Beatriz para perto e adormeceu,
sentindo o cheiro dos cabelos enrolados e pensando o quanto seria bom passar o
resto dos seus dias ao lado dela, sentindo aquele perfume delicioso que ela
tinha, vendo-a sorrir e ama-la até que seu peito começasse a doer, se é que
isso era possível. Sem se preocupar com mãe, pai e toda aquela história que
agora ele sabia ser a SUA história.
Já estava escuro quando Beatriz
acordou e sentiu o braço de Caio sobre ela. Uma das pernas dele, estava
prendendo as suas e Beatriz estava suando. Estava desconfortável, mas não deu
importância, toda aquela proximidade com Caio era a melhor coisa que ela podia
ter ao acordar. Ela tentou se mexer um pouco, pois o braço estava dormente.
Apesar do esforço para que ele não acordasse, Caio começou a piscar e abriu os
olhos azuis brilhantes de uma forma que ela achou extremamente graciosa, mas
não menos máscula.
- Oi linda! – O sorriso de Caio
mostrava todos dentes e era fascinante.
- Oi lindo!
Caio a puxou mais para perto e a
abraçou forte, inalou o cheiro dos cabelos dela mais uma vez.
Eles estavam agarrados um ao
outro, os braços e pernas enlaçados.
Sem que Beatriz esperasse, Caio
começou a falar.
- Sabe, eu não sei o que pensar
sobre tudo isso que minha mãe falou hoje. O Alberto foi um pai e tanto, se
esforçou e me criou da melhor maneira que conseguiu e também amou muito a minha
mãe.
Eu acho que nunca soube valorizar
de verdade o pai que eu tive. Teve uma época em que eu era um merda. Vivia de
arruaça, fui preso e ele sempre esteve lá pra m,e ajudar e me livrar da
encrencas.
Nunca foi indiferente é claro, eu
levava sermões infindáveis, ficava de castigo mesmo já tendo quase 18 e depois
que passei dessa idade também, mas eu nunca dei atenção pra ele. Simplesmente
ignorava, achava que era o dever dele fazer tudo aquilo por mim, pelo simples
fato de ser meu pai.
E hoje, depois de saber o que
aconteceu, eu percebi o quanto ele realmente se empenhava na tarefa de ser meu
pai. O Alberto não precisava me salvar das minhas encrencas, nem me tirar da
cadeia, e muito menos gastar saliva comigo, podia ter deixado tudo pra minha
mãe, mas não fez isso. Ele se importou. Ele correu o risco de ser julgado e mal
interpretado, de ser odiado por mim, correu o risco de errar, e tudo por um
moleque que não estava nem aí pra ele e que ele não tinha que proteger.
- Caio você não pode pensar assim,
o Alberto assumiu sim ser seu pai e a partir do momento que fez isso, pelo que
eu pude entender, ele realmente se empenhou nessa tarefa, ele mostrou que era
sim seu pai, mesmo não sem aquele que te gerou. Você não tem que se torturar
por não ter dado valor pra ele, a maioria dos jovens não dá o devido valor a
seus pais e além do mais, você não sabia que o seu pai biológico era outro, não
se culpe assim. Você deu o que podia pra ele, seu jeito e até onde eu sei, ele
nunca exigiu mais que isso de você.
- É verdade, ele nunca exigiu mais
do que eu estava disposto a dar, talvez não quisesse me pressionar, não sei,
mas ele era um cara e tanto.
- Eu aposto que sim. Gostaria de
tê-lo conhecido.
- Acho que ele iria gostar muito
de você, afinal, você me fez ser melhor.
Caio apertou um pouco mais o
abraço dos dois e beijou o topo da cabeça de Beatriz.
- Obrigado.
- Pelo que¿ - Beatriz não havia
entendido o agradecimento repentino.
- Por me ouvir, por ficar aqui
comigo, e não me julgar.
- Eu jamais iria fazer isso, não
quero que ninguém me julgue também e você sempre me tratou da mesma forma,
mesmo depois de saber de tudo o que aconteceu comigo. Era o mínimo que eu podia fazer por você.
Caio sorriu e a beijou.
Aos poucos aquele beijo foi se
tornando mais intenso, o desejo começou a brotar nos dois, tomando conta de
cada pedaço do corpo de cada um, preenchendo cada espaço dentro deles e ao
redor de onde estavam, a paixão que um sentia pelo outro era algo quase palpável,
qualquer um que entrasse no quarto naquele momento poderia sentir todo o amor
que transbordava dos dois corpos se enroscando na cama.
E o resto da tarde passou rápido,
Caio e Beatriz fazendo amor, totalmente entregues aquele momento de prazer e
envolvimento.
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