segunda-feira, 10 de junho de 2013

Capítulo 12 - Parte 11

Caio estava sentado, com os pés sobre a cama, os braços atrás da cabeça e encostado na cabeceira do móvel. Estava olhando pra cima, pra ponto nenhum, apenas pensando em tudo o que ouvira a mãe lhe dizer.
Estava tão concentrado em tudo o que havia escutado, que não ouviu Beatriz bater na porta e quando ela entrou, ele nem ao menos virou a cabeça para vê-la trazer a bandeja de chá para o lado dele na cama. Estava distraído demais.
Beatriz, por sua vez, percebeu o quanto Caio estava compenetrado em seus pensamentos e não falou palavra alguma, apenas colocou a bandeja sobre a cômoda, despejou o chá nas canecas, adoçou e entregou uma a Caio, que bebeu com os olhos fechados, apreciando o aroma e o sabor do liquido fervente, como se aquilo fosse ajuda-lo a pensar melhor sobre sua vida, seu passado e toda a mentira que vivera até ali.
Beatriz então, pegou a sua caneca, de a volta na cama e sentou-se ao lado de Caio em silencio, apenas apreciando o seu chá e oferecendo a ele sua presença, pois pelo que pode perceber, ele não estava a fim de conversar.
Caio ficou realmente grato por Beatriz não perguntar a respeito da conversa com a mãe e  Tulio, ele não queria falar a respeito daquilo. Já era difícil o suficiente para ele pensar que tudo o que vivera, o sentimento que nutriu pelo não-pai  Alberto pudesse ser mentira.
Não.
O que ele sentiu pelo não-pai era verdadeiro, como qualquer amor de filho para pai, o que era mentira era sua história, a que a mãe havia lhe contado desde que era muito pequeno.
Do quão felizes ela e seu pai eram, o tempo que namoraram e o desenrolar da relação, que terminara na gravidez dele.
Até que parte ela havia substituído o nome de Tulio pelo de Alberto¿
Será que ela realmente o havia amado, ou apenas o usou para ter alguém para assumir o filho de outro¿
Eram muitas perguntas, mas nenhuma delas tinha uma resposta, ainda não.
Caio sabia que teria que falar com Alice para ter essas respostas, mas essa era uma conversa que ele queria adiar o tanto quanto pudesse. Ele tinha raiva dela, raiva de Tulio e de tudo o que eles o haviam feito acreditar e que agora, ele sabia ser mentira.
Mas quando começou a reviver a conversa por partes, Caio lembrou que a mãe lhe havia dito que Tulio havia ficado sabendo da paternidade há pouco mais de 3 ou 4 anos e isso queria dizer que Tulio também havia sido enganado, talvez não de forma tão descarada quanto Caio, que convivera com a mentira durante toda a sua existência, mas também havia sido vitima em toda aquela história.
Olhar a situação dessa forma, fez Caio se sentir um pouco menos idiota. Ele compartilhava parte de tudo aquilo com o pai verdadeiro, embora achasse difícil conseguir chama-lo assim algum dia, era o que Tulio era realmente, seu Pai Verdadeiro.
Caio suspirou, sua cabeça doía, os olhos estavam cansados de tanto olhar para o mesmo ponto inexistente no teto sem piscar. Beatriz estava deitada cochilando ao seu lado na cama, ele estava tão concentrado em seus pensamentos que não percebera quando ela dormiu.
Um sorriso lento brotou nos lábios do rapaz, apesar de ele não olhar para ela e nem lhe dirigir palavra, ela havia ficado ali, ao seu lado, apenas para que ele soubesse que ela estava ali pra o que ele precisasse, até para ignorá-la.
“Ela é realmente especial, e é minha”.
Caio esqueceu o assunto com o pai, o não-pai e a mãe por hora, queria aproveitar a companhia da namorada da melhor forma que podia imaginar no momento.
Ele deitou-se ao lado dela, que estava de costas para ele, abraçou-a, puxando Beatriz para perto e adormeceu, sentindo o cheiro dos cabelos enrolados e pensando o quanto seria bom passar o resto dos seus dias ao lado dela, sentindo aquele perfume delicioso que ela tinha, vendo-a sorrir e ama-la até que seu peito começasse a doer, se é que isso era possível. Sem se preocupar com mãe, pai e toda aquela história que agora ele sabia ser a SUA história.
Já estava escuro quando Beatriz acordou e sentiu o braço de Caio sobre ela. Uma das pernas dele, estava prendendo as suas e Beatriz estava suando. Estava desconfortável, mas não deu importância, toda aquela proximidade com Caio era a melhor coisa que ela podia ter ao acordar. Ela tentou se mexer um pouco, pois o braço estava dormente. Apesar do esforço para que ele não acordasse, Caio começou a piscar e abriu os olhos azuis brilhantes de uma forma que ela achou extremamente graciosa, mas não menos máscula.
- Oi linda! – O sorriso de Caio mostrava todos dentes e era fascinante.
- Oi lindo!
Caio a puxou mais para perto e a abraçou forte, inalou o cheiro dos cabelos dela mais uma vez.
Eles estavam agarrados um ao outro, os braços e pernas enlaçados.
Sem que Beatriz esperasse, Caio começou a falar.
- Sabe, eu não sei o que pensar sobre tudo isso que minha mãe falou hoje. O Alberto foi um pai e tanto, se esforçou e me criou da melhor maneira que conseguiu e também amou muito a minha mãe.
Eu acho que nunca soube valorizar de verdade o pai que eu tive. Teve uma época em que eu era um merda. Vivia de arruaça, fui preso e ele sempre esteve lá pra m,e ajudar e me livrar da encrencas.
Nunca foi indiferente é claro, eu levava sermões infindáveis, ficava de castigo mesmo já tendo quase 18 e depois que passei dessa idade também, mas eu nunca dei atenção pra ele. Simplesmente ignorava, achava que era o dever dele fazer tudo aquilo por mim, pelo simples fato de ser meu pai.
E hoje, depois de saber o que aconteceu, eu percebi o quanto ele realmente se empenhava na tarefa de ser meu pai. O Alberto não precisava me salvar das minhas encrencas, nem me tirar da cadeia, e muito menos gastar saliva comigo, podia ter deixado tudo pra minha mãe, mas não fez isso. Ele se importou. Ele correu o risco de ser julgado e mal interpretado, de ser odiado por mim, correu o risco de errar, e tudo por um moleque que não estava nem aí pra ele e que ele não tinha que proteger.
- Caio você não pode pensar assim, o Alberto assumiu sim ser seu pai e a partir do momento que fez isso, pelo que eu pude entender, ele realmente se empenhou nessa tarefa, ele mostrou que era sim seu pai, mesmo não sem aquele que te gerou. Você não tem que se   torturar por não ter dado valor pra ele, a maioria dos jovens não dá o devido valor a seus pais e além do mais, você não sabia que o seu pai biológico era outro, não se culpe assim. Você deu o que podia pra ele, seu jeito e até onde eu sei, ele nunca exigiu mais que isso de você.
- É verdade, ele nunca exigiu mais do que eu estava disposto a dar, talvez não quisesse me pressionar, não sei, mas ele era um cara e tanto.
- Eu aposto que sim. Gostaria de tê-lo conhecido.
- Acho que ele iria gostar muito de você, afinal, você me fez ser melhor.
Caio apertou um pouco mais o abraço dos dois e beijou o topo da cabeça de Beatriz.
- Obrigado.
- Pelo que¿ - Beatriz não havia entendido o agradecimento repentino.
- Por me ouvir, por ficar aqui comigo, e não me julgar.
- Eu jamais iria fazer isso, não quero que ninguém me julgue também e você sempre me tratou da mesma forma, mesmo depois de saber de tudo o que aconteceu comigo.  Era o mínimo que eu podia fazer por você.
Caio sorriu e a beijou.
Aos poucos aquele beijo foi se tornando mais intenso, o desejo começou a brotar nos dois, tomando conta de cada pedaço do corpo de cada um, preenchendo cada espaço dentro deles e ao redor de onde estavam, a paixão que um sentia pelo outro era algo quase palpável, qualquer um que entrasse no quarto naquele momento poderia sentir todo o amor que transbordava dos dois corpos se enroscando na cama.

E o resto da tarde passou rápido, Caio e Beatriz fazendo amor, totalmente entregues aquele momento de prazer e envolvimento. 

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