Beatriz puxou a mãe para um abraço
e enquanto Iara afundava nos seus cabelos cacheados, soluçando, Bia afagava as
costas dela suavemente, confortando-a, da mesma forma que Caio fizera com ela
quando lhe contara tudo o que havia acontecido.
Aos poucos os soluços diminuíram e
as lagrimas cessaram, Iara enxugou o rosto com as costas de uma das mãos e
encarou a filha por alguns instantes, pesando as palavras antes de falar.
- Porque você nunca nos contou¿ -
O olhar inquisidor da mãe fez Beatriz estremecer.
- e- eu nunca tive coragem,
precisei usar toda a força que eu tinha para deixar as memórias de tudo aquilo
de lado e retomar a minha vida. Contar o que aconteceu é como reviver tudo em
detalhes, é aterrorizante. Passei todo o
restante da minha estadia na França me ocupando com o máximo de coisas que eu
conseguia, para nunca ter tempo de parar para pensar, porque se eu começasse,
eu lembraria de todo aquele terror, do cheiro de álcool e o gosto de sangue que
eu sentia na minha boca constantemente.
Quando finalmente consegui contar
a alguém, eu recebi muito apoio porque tenho certeza, que se não tivesse
recebido, eu teria me afundado em um poço de auto piedade e não tenho certeza
se conseguiria sair dele.
Caio chegou mais perto das duas e
colocou a mão no ombro de beatriz, apertando suavemente, para demonstrar que
estava ali, com ela, protegendo-a, apoiando-a.
Iara fitou a filha, os olhos
pareciam desesperados, ainda estavam marejados.
- Me desculpe filha, por não ter
prestado atenção, por não ter percebido que havia algo de errado. Eu achei que
o fato de você ter parado de nos ligar de repente se devia as responsabilidades
do curso, nunca imaginei que fosse por causa de algo assim. – O balançar
constante da cabeça da mãe fez Beatriz tentar imaginar o que ela estava
pensando.
- Tudo bem mãe, não é culpa sua,
nem minha, a culpa é toda do Daniel, é ele que tem que pagar por isso e não a gente. É ele que tem que sofrer. E eu
quero cuidar disso pessoalmente, quero ver ele sentir que está despedaçado, sem
chão, sem nada. Quero que ele d=sinta o desespero que eu senti, quando percebi
que não era mais nada, que ele tinha retirado tudo o que havia de bom em mim,
quero ver ele pagar por tudo o que me fez e quero poder ter o prazer de
assistir tudo de camarote.
Iara se assustou um pouco com as
palavras da filha, mas não tinha dimensão da mágoa que Bia carregava. Sabia
apenas que a dor que ela sentia naquele momento, depois de saber de tudo era
quase insuportável.
- Você ainda não sabe de tudo, eu
preciso te mostrar mais uma coisa.
Iara suspirou fundo e assentiu. “
O que será que vem agora¿” Ela perguntou a si mesma.
- Tudo bem filha, seja o que for
você pode me contar.
- Eu preciso que você venha comigo,
é algo que preciso mostrar, mais do que contar.
Iara assentiu e seguiu Bia escada
acima em direção ao quarto. Caio ficou na cozinha, resolveu deixar as duas
sozinhas, presumindo que Beatriz queria um momento a sós com a mãe para lhe
mostrar a tatuagem.
Agora ele precisava falar com
Pedro e Velasquez, a respeito da segurança da mãe e da irmã de Bia, pois Daniel
já tinha mais dois alvos que poderia querer acertar de alguma forma.
Cerca de 20 minutos depois de
entrarem no quarto que Caio e Beatriz ocupavam, Iara estava ligeiramente tonta,
tentando avaliar e pensar em todas as informações que a filha havia lhe
contado. Era tudo tão trágico e desesperador que ela mal podia respirar.
Um nó estava atravessado em sua
garganta, seus olhos estavam marejados e tudo o que ela queria era afundar a
cabeça em um travesseiro e chorar até o seu peito doer. Embora ela achasse que
já havia chorado naquele dia mais do que já chorara em toda sua vida.
Saber de tudo o que havia
acontecido com a filha, foi como se a tivessem empurrado da beira de um
precipício e ela tivesse aterrissado de cara no chão. Tudo havia perdido o
foco, se transformando em um emaranhado de situações que ela tinha medo de
vasculhar e tentar entender porque haviam acontecido daquela forma. Um medo
aterrador começou a tomar conta dela, medo do que poderia ter acontecido com
ela e lara enquanto estiveram na companhia daquele monstro.
De repente ela entendeu porque
haviam seguranças seguindo Caio e Beatriz por onde quer que eles estivessem e
entendeu também porque o genro queria que ela levasse um deles junto ao
passeio.
Naquele momento, ela decidiu que
queria ir embora e levar Lara consigo, pois se ficassem ali só iriam causar
mais riscos à Caio e bia, seram presa fácil para Daniel e poderiam colocar tudo
o que os dois estavam construindo a perder.
Iara olhou para a filha mais
velha, que estava parada á sua frente, avaliando sua expressão.
- Bia, eu e sua irmã vamos embora.
- O que¿ - Beatriz não estava
entendendo
- Acho que é melhor. Veja bem,
aqui eu e sua irmão seremos uma presa fácil para o Daniel e tenho certeza que
você e Caio não conseguirão trabalhar em paz se nós ficarmos aqui. E eu quero
sinceramente que você seja feliz com esse rapaz. E a única forma é me afastando
agora, não correndo o risco de ser pega. Caio é ótimo e tenho certeza que ele a protegerá se você precisar, mas sua
irmã ainda é minha responsabilidade e eu tenho que pensar na segurança dela
também.
Beatriz assentiu. Estava triste,
mas sabia que a mãe tinha razão. O melhor para ela e sua irmã era saírem dali o
quanto antes.
Iara foi até o quarto em que
estava a filha mais nova e mandou que Lara se trocasse rapidamente, enquanto a
menina fazia isso ela ligou para o aeroporto e conseguiu um voopara dali a duas
horas. Era perfeito.
Então, as 11 horas da manhã, Bia e
Caio estavam no saguão do aeroporto, se despedindo das duas. Uma despedida
chorosa, mas sem segredos, finalmente.
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Espero que gostem
beijos
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