- Eu fui pra casa e nas semanas
que se passaram evitei ele a todo custo. Ele me telefonava, me esperava perto
do campus e chegou até a ir na minha casa, mas eu não atendi. Estava com medo
dele, não sabia o que Daniel podia fazer. A amiga da minha mãe não sabia o que
ele tinha feito e deixou ele entrar.
Ele me chamou pra jantar fora, pra
gente acertar as coisas, eu concordei e fomos a um restaurante conhecido perto
de casa.
Conversamos e ele me disse que
estava arrependido, que nunca mais ia fazer aquilo, que eu podia confiar nele .
E eu acreditei, não tinha porque não acreditar no que ele me falava.
Fomos pra casa dele aquela noite e
de manhã quando acordamos, ele me pediu para morar com ele.
Eu aceitei e no final daquela
semana fizemos a mudança. As primeiras semanas foram ótimas. Ele era atencioso
e carinhoso, parecia que realmente se importava. Mas com o tempo ele começou a
trazer alguns amigos em casa e a beber, e as vezes um dos amigos trazia cocaína
e eles cheiravam.
Em geral eu chegava em casa e ia
direto pro quarto, me trancava e ficava lá até de manha, muitas vezes não
conseguia dormir, ficava com medo do que podia acontecer se eu dormisse.
Um dia dispensaram a gente antes
das aulas e toda a turma resolveu ir até um barzinho beber alguma coisa e comer
um sanduíche. Fomos e ficamos conversando por um tempo, eu bebi suco e o resto
no pessoal bebeu vinho. Perdi a noção do tempo e quando cheguei em casa já era
noite e o Daniel estava lá com os amigos dele.
Ele estava furioso, havia bebido e
tinha cocaína sobre a mesa de centro na sala. Quando eu abri a porta e entrei
ele veio na minha direção e me deu um tapa, eu fui jogada contra a porta.
Me encolhi e ele veio de novo pra
cima de mim. Agarrou os meus cabelos e me arrastou até o quarto. Disse que eu
estava com outro, que aquele filho não era dele e que eu ia aprender .
Ele começou a me bater de verdade,
socos, chutes, eu tentava gritar, mas minha voz não saía, eu estava apavorada
demais.
Ele gritava e dizia que eu era
fraca, que não podia fazer nada contra ele, que não queria o meu filho.
Eu me encolhi na cama e aguentei.
Quando ele cansou de bater, chamou os amigos dele.-
Beatriz soluçou, sentiu as
lágrimas começarem a rolar, Caio se aproximou mais dela, mas ela não deixou que
a tocasse, precisava terminar de falar, se ele a tocasse, perderia a coragem de
contar o resto da história, a pior parte.
-Daniel mandou que me segurassem,
que íamos ter uma festinha, ele rasgou as minhas roupas e veio pra cima de mim,
eu tentei chutar, me debater, mas os amigos dele me seguraram com mais força e
eu acabei desistindo. Tentei pensar em outra coisa e apenas deixei que ele
fizesse aquilo comigo.
Todo o tempo em que estava sobre
mim ele sussurrava o quanto me amava, que eu era o seu anjo e o quanto ele me
queria.
Quando ele terminou, chamou um dos
amigos, e quando aquele terminou, foi a vez do outro. Quando eles finalmente
cansaram de mim, foram embora e me deixaram ali, sozinha.
Eu estava sangrando, sentia muita
dor em todo o corpo, por causa da surra e do que haviam feito comigo. Consegui
me arrastar até o corredor do prédio e acabei desmaiando ali.
Um vizinho me encontrou e me levou
para o hospital. Acordei no outro dia, muito dolorida. Estava cheia de
hematomas e tinha um dos braços engessado.
Quando o médico veio falar comigo
ele me contou que eu havia quebrado o braço e duas costelas, tinha um corte no
supercílio que precisou de alguns pontos, um dos olhos inchado e mais algumas
escoriações pelo corpo.
Eu perguntei a respeito do bebê, e
ele falou que devido à agressão eu tinha perdido. Fiquei arrasada, eu não sabia
o que fazer, a quem recorrer, estava com medo do Daniel e do que ele podia
fazer comigo.
Antes de sair do hospital, uma
psicóloga veio falar comigo e perguntou a respeito do pai da criança e comentou
sobre o estupro, mas eu não consegui falar com ela, na verdade, nunca falei
sobre isso com ninguém, eu me fechei pra tudo, até hoje.-
Caio suspirou fundo, uma, duas,
três, vezes para se acalmar, estava possesso com o que Beatriz lhe contara,
enojado com o que haviam feito com ela e profundamente admirado com toda a
força que ela tinha, em aguentar tudo aquilo sozinha em um país distante, sem o
apoio de ninguém.
-E o que aconteceu depois¿ Você
viu esse cara de novo¿- A voz de Caio estava grave, ele tentava controlar a
ira.
-Não, depois que eu saí do
hospital nunca mais o vi ou falei com ele, me formei, estagiei em um restaurante
por lá e logo que voltei ao Brasil fui chamada pra trabalhar aqui no Cucina
Dolce.
- Fazem 4 anos que não vejo o
Daniel.
- Então o que aconteceu ontem¿-
Caio não estava entendendo o que estava acontecendo
- Ele descobriu o numero do meu
celular e me mandou uma mensagem, dizendo que logo iriamos nos ver. Eu estou
com medo, Caio, medo que ele me encontre e medo do que ele pode fazer.
Beatriz fungou, limpou o nariz com
as costas das mãos e sentiu Caio chegando mais perto. Ele a abraçou forte e
disse.
- Não precisa ter medo minha
menina, eu estou aqui e vou te proteger dele, vou estar aqui com você sempre,
para tudo que você precisar.
Caio estava tentando assimilar
todas aquelas informações, estava com medo também, medo por Beatriz, do que
poderia acontecer com ela e do que estava por vir.
Sentia agora mais do que nunca que
deveria protege-la, para que nada de perverso como aquilo acontecesse com ela.
Precisaria ajuda-la a curar suas feridas, daria a Beatriz todo o amor que
aquele monstro não soube dar, toda a atenção e carinho que ela merecia, faria
com que ela fosse feliz com ele, pois Beatriz já era tudo o que ele precisava
para ser feliz.
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E esse é o grande segredo dela, o que será qe ainda vem pela frente?
Obrigada a todos que estão lendo, vocês estão fazendo meus dias valerem mais a pena!
=o***
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